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Plantando ouro

A alimentação do rebanho é um dos maiores custos em uma fazenda leiteira, podendo representar até 50% dos custos de produção. Especificamente em relação ao gasto com a produção de volumosos, esse valor é, em média, 12% do custo total de produção do leite, índice significativo que demanda do produtor bastante atenção na gestão de sua propriedade para evitar impactos negativos na atividade leiteira.

No Brasil, um dos principais alimentos utilizados para a produção de volumoso é o milho, em razão do seu valor nutritivo e boa produção de massa por área plantada. Diversas variáveis estão envolvidas no cultivo do milho, como, por exemplo, a topografia da fazenda, a resistência às pragas e o planejamento do plantio, itens que devem ser observados com mais atenção para reduzir o custo de produção da silagem.

Diante desse dilema, convidamos o técnico do Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira da Universidade Federal de Viçosa Thiago Camacho e o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Jackson Silva e Oliveira, especialistas que deram 10 dicas valiosas para o produtor acertar na preparação do solo e na escolha do híbrido de milho para produção de silagem. Confira a seguir:

1) PLANEJAMENTO DO PLANTIO E DA COLHEITA
Antes de plantar o milho é necessário calcular a demanda de silagem. Para isso, é preciso levantar a quantidade de animais no rebanho que vai consumir o volumoso, a média de fornecimento diário por animal e o número de dias que a silagem será fornecida. É o que sugere Jackson Silva. “Acrescente 10% em caso de silos em trincheira ou 15% se silos de superfície para compensar as perdas durante o armazenamento e retirada”, aconselha. Para calcular área de lavoura é necessário saber a produtividade média obtida na propriedade. “Se a produção for feita na safra e na safrinha a área poderá ser a metade, desde que a produtividade seja a mesma nas duas épocas”, completa. Segundo Thiago Camacho, o ideal é que 1 hectare de milho para silagem alimente pelo menos 4 vacas durante 1 ano.

2) PREPARO DO SOLO
Realizado o planejamento do plantio e da colheita, a próxima etapa é preparar o solo para garantir a alta eficiência produtiva do milho. Thiago Camacho orienta que a adubação do solo deve ser feita de forma correta e equilibrada e a cobertura pode ser realizada com forrageiras como as braquiárias, milheto, aveia, azevém ou nabo forrageiro. Essa cobertura possibilita a melhoria na estrutura do solo, introdução de carbono no sistema, aumento da matéria orgânica, além do controle da erosão.

"Devemos buscar cultivares que sejam responsivas e que entreguem ao produtor pelo menos 5 t/ha de matéria seca”.

Para o preparo do solo, Jackson Silva indica que o produtor seja acompanhado por um profissional com experiência na área de fertilidade e de manejo de áreas de plantio para assegurar alta produtividade e baixo custo. É preciso que os resultados da análise do solo estejam nas mãos do produtor com no mínimo três meses antes da data prevista do plantio. “Isso dará tempo para que qualquer corretivo aplicado tenha tempo para agir”, destaca o técnico da Embrapa.

O produtor deve seguir as orientações de correção, adubação e demais tratos culturais dados pelo profissional da área. E sempre que possível, deve optar pelo sistema de plantio direto, indica Jackson. “É bom para o solo, para a planta e para o bolso do produtor”. No caso desse sistema de plantio, as plantadeiras devem ser diferenciadas para cortar a cobertura vegetal e colocar a semente na forma correta.

3) ESCOLHA DO HÍBRIDO
Um dos principais itens desta lista, a escolha do híbrido influencia todo planejamento. Os cultivares escolhidos devem ser bem adaptados à região onde está localizada a propriedade. Esta medida minimiza a chance de fracasso na produção, já que o cultivo ficará menos sujeito à variação do tempo local. "É fundamental avaliar se tem indicação para aquela altitude, tolerância a doenças, fertilidade do solo, testes ou histórico de plantio”, afirma Thiago Camacho.

O produtor deve preferir híbridos com alta produtividade de matéria seca (para reduzir o custo da tonelada ensilada), boa produção de grãos (para conferir mais energia à silagem) e grãos de textura macia, para o amido ser mais completamente digerido no rúmen das vacas. Segundo Jackson, é preciso levar em consideração se o híbrido é destinado para sistemas de plantio com alta, média ou baixa tecnologia. “Se um híbrido que exige maior demanda tecnológica for plantado em um sistema de baixa tecnologia muito provavelmente não trará os resultados esperados”, pondera.

Uma característica indesejável para um híbrido destinado à produção de silagem é o acamamento, também conhecido como tombamento, que ocorre quando as raízes não são capazes de sustentar o peso da planta. Isso aumenta o custo da ensilagem além de gerar perdas de produtividade. Para evitar esse problema, recomenda-se a adequada profundidade de plantio e distribuição de sementes e adubos. Pode-se também fazer uso de tecnologias que aprofundem o sistema radicular da planta como a gessagem.

4) COMBINAÇÃO DE HÍBRIDOS
Em relação a esse tema, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Jackson Silva sugere o plantio em dias diferentes (escalonado) se o produtor for usar o mesmo híbrido de milho. Caso sejam usados híbridos com janelas de cortes (ciclos) diferentes o ideal é realizar o plantio no mesmo dia. “Ambas as estratégias permitirão que cada silo seja cheio com forragem colhida no ponto ideal”, destaca. Uma dica realmente valiosa, já que as perdas podem ser consideráveis em função do alto custo da ensilagem, que pode chegar a 40% da despesa total da silagem, segundo o engenheiro agrônomo Thiago Camacho.

5) GRÃOS PROFUNDOS
O adequado processamento dos grãos é fundamental para obtenção de uma silagem de qualidade. Grãos profundos facilitam o trabalho das máquinas ensiladeiras na quebra e fragmentação do milho, processos essenciais para exposição do amido presente no cereal, visando seu melhor aproveitamento pelas vacas leiteiras.

6) BROMATOLOGIA DE EXCELÊNCIA
Diferentes híbridos disponíveis no mercado comercial possuem pontos relevantes que associam volume de matéria seca (produtividade) e qualidade para que as vacas expressem seu potencial produtivo. O ideal seria que selecionássemos os híbridos pela bromatologia exigida pelo rebanho, pontos como uma boa produtividade de grãos que é a fonte de amido expressiva na silagem (NDT), uma boa digestibilidade da fibra, dentre outros.

7) TOLERÂNCIA A PRAGAS E DOENÇAS
Com o melhoramento genético, os grãos tendem a perder a rusticidade, porém alcançam maior produtividade. Essa é a conclusão do engenheiro agrônomo Thiago Camacho, que concorda que a biotecnologia de transgenia promoveu maior resistência a pragas. “Devemos analisar a realidade de cada fazenda para indicar as melhores soluções”. Ele cita, por exemplo, que o uso de fungicida, além de reduzir doenças nas plantas, promovem ganhos em produtividade e na qualidade da silagem.

8) ÉPOCA DE PLANTIO (REGIÕES CENTRO-OESTE, SUDESTE E SUL)
Saber a hora certa de plantar determina sua capacidade de produção, já que alguns fatores, como por exemplo a disponibilidade de água vai interferir no crescimento da planta. O milho pode ser plantado em diversos períodos do ano. O mais indicado é que o plantio seja feito entre outubro e novembro, mas são admitidos outros períodos:

  • Antecipado (agosto/setembro)
  • Normal (outubro/ novembro)
  • Tardio (dezembro/janeiro)
  • Safrinha (fevereiro/março)

9) COLHER A LAVOURA NO PONTO IDEAL
Chegou a hora da colheita. Para garantir a melhor quantidade de nutrientes para as vacas, o milho deve ser ensilado quando seu teor de MS estiver entre 30% e 35%. A recomendação da Embrapa é que após 90 dias do plantio o produtor deve começar a acompanhar o teor de MS da lavoura. “Isso pode ser feito facilmente com uma balança e um forno de micro-ondas”, destaca Jackson.

10) COLHEITA E ENCHIMENTO DO SILO
Para manter a qualidade e os nutrientes desejáveis, o material colhido deve ser ensilado o mais rápido possível. Por isso, a área a ser colhida, a disponibilidade de máquinas e a distância entre a lavoura e o silo devem ser observados antes da colheita. O produtor precisa também calcular o volume da trincheira de forma que conseguirá ensilar toda a produção.

A compactação insuficiente da silagem é muito comum e gera perdas para a fazenda, principalmente de qualidade. Para ela ser bem-feita, o pesquisador da Embrapa indica alguns cuidados especiais:

  1. Pelo menos um trator deve trabalhar de forma exclusiva e contínua;
  2. A forragem deve ser picada no tamanho correto, de 8 a 12 milímetros;
  3. Espalhar a forragem descarregada em uma camada com altura máxima de 20 centímetros antes de fazer a compactação.


Depois de ter alcançado rendimento adequado na colheita, é primordial que a ensilagem seja feita o mais rápido possível para garantir os nutrientes da planta. O mais indicado é ter uma janela de corte de 8 a 12 dias entre as colheitas, quando forem usados diferentes híbridos.


Fonte:Revista Leite Integral
www.revistaleiteintegral.com.br/noticia/plantando-ouro

 

 

 

 

 

Data: 16/08/2019

 

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